Pensei
em mil formas para começar a escrever sobre minha experiência com a
maternidade. Pensei em começar pelo planejamento da gestação, pela própria
gestação, pelo parto, pela amamentação... e fiquei horas pensando, sem
conseguir me decidir por onde começar. Mas depois de muita reflexão, cheguei a uma conclusão, que
serve para o meu depoimento sobre maternidade e para a minha vida: não importa
por onde eu comecei, e sim onde vou chegar! E, claro, o percurso também é muito
importante.
Esse
meu exercício reflexivo em tudo que faço veio no pacote maternidade. Antes eu
não era assim, fazia muitas coisas sem pensar ou sem antes questionar alguns pontos. Hoje, minhas
atitudes e decisões acompanham uma lista de porquês e de questionamentos.
Cansei de aceitar calada tudo o que a sociedade me impõe. Achava que não tinha
disso no mundo materno, mas é onde mais se recebe influência e interferência da
sociedade.
A
influência, os palpites, as imposições vêm de todos os lados, da mídia, da
vizinha, da tia, da prima, da vó, da sogra, da fulana na fila do supermercado
e, principalmente, dos “dotô” ou dos metidos a “dotô”. Basta apontar a
barriguinha que você já recebe uma enxurrada de informações, em sua maioria,
desnecessárias, equivocadas, ultrapassadas e desrespeitosas para com a mãe e
com o bebê. Mas são coisas que todo mundo faz e até hoje está todo mundo vivo
aí pra provar que “deu certo”. Enfim, comigo não foi diferente.
Recebi
aquela enxurrada de palpites e informações, mas aos poucos e dentro de minhas
limitações, fui me informando, fui usando a lógica e o instinto e decidi que
gostaria de ter um parto normal. A gravidez foi ótima, me lembro perfeitamente
de cada movimento que Manuela fazia dentro do meu ventre, me lembro e morro de
saudades das horas em que passávamos juntinhas, e a única coisa que eu fazia
era acariciar minha barriga para sentí-la. Nada me incomodava, os kilos a mais,
as dores pelo corpo, as perebas no rosto, a cara de batata, tudo isso era muito
pequeno e insignificante perto do milagre que estava se realizando dentro do
meu corpo. Minha gravidez foi MA-RA-VI-LHO-SA.
Sobre
o parto, bem, o parto. Na verdade não foi um parto, foi uma cirurgia, a tão
sonhada por umas e odiada por outras, a cesárea. Mas isso é história pra outra
oportunidade. Tivemos que recorrer a cirurgia pois a Manuela resolveu
estacionar na posição pélvica (sentada), dificultando o nascimento via vaginal.
O importante foi que ela nasceu. Linda, saudável, mamando desde o centro
cirúrgico. E aí começa uma linda história de amor, superação, lutas, vitórias,
reflexões e muito instinto, materno e animal. Logo na primeira noite no
hospital, pedi que me dessem a Manuela na cama, ela dormiu nos meus braços e
mamando. E na segunda noite não foi diferente, dormimos juntinhas e
agarradinhas. No dia seguinte ao nascimento, uma “mãezinha” que estava no mesmo
quarto me viu acalentando a Manu enquanto meu café da manhã esfriava. Eu estava
morrendo de fome, confesso, mas não queria nem saber de deixar a Manu chorando
enquanto eu me alimentava, queria mais era acalmá-la, acariciá-la e fazê-la,
sentir-se segura. Queria suprir primeiro a necessidade dela. Mas a “mãezinha”
me falava: “- Deixa ela chorando no bercinho, se você continuar assim, nunca
mais vai fazer nada, vai viver com ela no colo.” Foi aí que meu senso crítico e
reflexivo, acompanhados do instinto animal e materno, começaram dar sinais de
sua existência.
Na
amamentação, que não é fácil, tivemos algumas dificuldades, bicos rachados,
bebê mamando e regurgitando sangue dos bicos feridos, hiperlactação (leite
demais), refluxo, mas muita paciência. O curso de amamentação que fiz pelo
convênio médico durante a gestação foi de grande valia, mas o fundamental foi a
minha persistência e a minha humildade em buscar ajuda. Logo no início da
amamentação, minha mãe me aconselhou a ligar ao Banco de Leite, pois além de as
enfermeiras ajudarem com as dificuldades do início da amamentação, eu poderia
doar o leite que estivesse em excesso. Recebi a visita de uma das enfermeiras, ela
me explicou muitas coisas e me incentivou a doar o meu leite, pois muitos bebês
não podem ou não conseguem mamar em suas mães, principalmente os prematuros. E
aí começou mais uma história de amor, mas o amor líquido, doado dentro de
vidrinhos. Pra mim era só leite em excesso, mas pra algumas mães e bebês esse
leite era e é vida. As dificuldades da amamentação passaram e veio o estado de
graça, o vínculo, a troca de carinhos, o prazer, mais e mais amor. Continuo
amamentando, em livre demanda, e continuo doando leite. Por motivos de força
maior, precisei voltar ao trabalho quando Manu estava com 4 meses e 10 dias.
Ouvi de uma pediatra que não poderia mais amamentar quando voltasse ao
trabalho. Olha, se eu não tivesse dado ouvidos ao meu instinto e não tivesse
buscado informação e reflexão a partir dessa afirmação da “dotôra”, talvez eu
não estivesse mais amamentando. Mas eu fui atrás de informações, baseadas em
evidências científicas, sabendo que o melhor para minha filha era continuar
mamando meu leite e consegui. Estou trabalhando, continuo amamentando em livre
demanda, e Manuela continua tomando meu leite no copinho enquanto estou fora de
casa. Amamentar, ordenhar, trabalhar, nada disso é fácil. Mas tudo isso me
proporciona satisfação, orgulho e a certeza de estar fazendo o melhor pela
minha filha.
Ser
mãe não é fácil, maternar não é fácil, mas ser bebê também não deve ser fácil,
por isso achei e acho necessário dar
importância para cada chorinho, para cada sinal que o bebê nos manda. Mudei
muitos pensamentos acerca da maternidade depois que me tornei mãe, quebrei
muitos paradigmas, questionei muitas coisas, e segui o meu instinto e o meu
coração. Conheci a criação com apego e me identifiquei com a maneira de
maternar, respeitando a individualidade e as necessidades da minha filha,
colocando-a sempre como prioridade nas nossas vidas. Para maternar com
consciência, foi preciso fugir das generalizações, dos métodos infalíveis e das
dicas “certeiras” do tempo da vovó. É preciso refletir diariamente sobre as
imposições e práticas sociais para a criação dos filhos consideradas normais e
reproduzidas há anos. É preciso refletir sobre tudo aquilo que você ouve e vê.
É preciso aprender a dizer não, muito mais para os outros do que para o seu
filho. É preciso ouvir o seu coração, é preciso seguir o seu instinto, mas o
instinto animal que nos acompanha, não aquele “instinto” que já sofreu muitas
interferências. E é isso que tenho feito e até agora tem dado certo. Ouço que
sou/estou radical, muito natureba, neurótica, que não posso criar a minha filha
dentro de uma bolha, que precisamos nos acostumar a ficar separadas, que isso e
que aquilo. Mas o meu coração de mãe não me disse nada disso, o meu instinto
animal e materno não me fizeram sentir nada disso. O meu coração me diz que
estou no caminho certo e que esse caminho, apesar de não ser o mais fácil, é o
mais prazeroso pra mim e pra Manuela e ele vai nos levar a uma árvore cheia de
bons frutos.
Yara Guariglia tem 27 anos, é mãe da Manuela Eiko (4 meses e 26 dias), Professora de Educação Infantil e Autora do Blog Dentro e Fora da Barriga. Atualmente, ela reside em Sorocaba/SP.
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