sexta-feira, 11 de maio de 2012

No hospital.

Tudo começou na noite de quarta-feira da semana passada. Eu estava gripada e o Pedro começou a apresentar sintomas de gripe também.
Na hora de dormir, dei mamá e ele logo pegou no sono. Eu aproveitei pra ler na cama, ao lado dele. Algum tempo depois eu percebi que o nariz dele, assim como o meu, estava entupido.
E em seguida, ele acordou chorando. A cena se repetiu por mais umas 10 vezes. Mamá, sono, nariz entupido, acordar.
Tentei colocá-lo no travesseiro, mas não adiantou, ele não gostou. Tentei elevar o colchão, mas ele também não aceitou... Eu aplicava Rinosoro, mas não havia nenhuma melhora.
Passaram-se horas, e eu tentei de TUDO. Tudo mesmo. Até que desisti e cheguei a cochilar com ele no colo, pois assim, ele conseguia respirar e dormir.
Quando deu umas 7 horas da manhã, eu tive uma brilhante ideia. Dei mamá e coloquei-o pra dormir no carrinho, com o encosto elevado. Deu certo. Ele conseguia respirar, dormiu bem, mas acordou várias vezes, por saber que não estava ao meu lado, na cama.


Na quinta-feira, ele passou o dia todo bem. Dormiu na maior parte do tempo, pra tirar o atraso mesmo. E conseguiu mamar normalmente.
Achei que os sintomas já estavam melhorando e que o Rinosoro tava realmente fazendo efeito. A noite chegou, e a coisa toda voltou com tudo!
Ele não dormia de jeito nenhum. Chorava, chorava, chorava. O sono chegava mas não permanecia porque ele não respirava com o nariz entupido. Eu pensei em usar a tática do carrinho com encosto elevado, mas dessa vez não resolveu.
Amanheceu, ele sem dormir, eu obviamente sem dormir também, tentando acalmá-lo, decidi que era hora de levá-lo ao PS do hospital, pra saber o que tava acontecendo.


Chegamos lá por volta das 9, ou 10h da manhã. Fomos atendidos por uma médica pediatra já senhorinha. Ela examinou o Pedro, perguntou se ele tava mamando normalmente, quais eram os sintomas, se ele teve febre, biriri-bororó. E por fim pediu que fizéssemos um Raio-X da face e outro do tórax.


Fomos então pra outra fila de atendimento... Fizemos os dois Raio-X, o Pedro gritou, esperneou e etc, mas logo se acalmou.
Voltamos pro corredor, esperar o resultado. Depois de uns 30 minutos fomos chamados. Com o resultado em mãos, fomos para o corredor dos consultórios que a essa hora, já estava lotadíssimo de crianças doentes, esperar o retorno da médica.


Demorou mais uns 20 minutos, ela apareceu. Examinou as duas placas e constatou bronquiolite, sinusite e rinite.
Naquele momento eu quis chorar. Pois a minha vida toda eu ouvi os horrores que a minha mãe sofreu por conta da minha bronquite.
A médica começou a falar, me deu N recomendações. Disse coisas horríveis, receitou uma porrada de remédios fortíssimos.
Entre eles, Decadron, Amoxilina, Clenil A e Berotec pra inalação. Saí chorando do consultório. Apavorada, só de pensar que meu filho tão pequenininho ia ser entupido de remédios fortíssimos.


Minha mãe tentou me acalmar e de lá seguimos pra farmácia.
Chegando na farmácia, eu ainda estava ao prantos... Quando o farmacêutico olha pra receita e solta isso: "Nossa, tudo isso, pra esse bebê?" "São remédios fortes... Ele já tomou antibiótico alguma vez?" "Quanto tempo ele tem?".
Entre outras pérolas.
Pronto, bastou pro meu coração que já estava esfacelado, ficar ainda mais f*dido.


Cheguei em casa e fiquei pensando se dava ou não dava tudo o que a médica tinha mandado.
Decidi então, cortar a receita ao meio. Comecei a dar os remédios e a noite de sexta-feira foi um pouco mais sossegada.
Continuei dando os remédios no sábado, mas a noite ele teve uma recaída e piorou.
Não dormia de novo, choramingava e nem o carrinho elevado resolveu, nem o Rinosoro, nem a inalação.
Dessa vez ele tava mega ofegante.
Amanheceu e eu decidi voltar ao mesmo hospital com uma condição: Se fosse a mesma médica, eu seguiria para outro hospital.


Chegando lá, havia só nós e mais uma outra família esperando o atendimento.
Fomos atendidos por outra médica, essa bem mais nova e muito atenciosa.
Examinou o Pedro, pediu os exames e disse que o remédio não tinha tido efeito, pois ele necessitava de 72 horas pra que isso acontecesse.
Mas mesmo assim, decidiu deixar o Pedro em observação por causa do cansaço e da ofegância. Também receitou três inalações com intervalo de 20 minutos entre elas e mais duas bolsas de soro.


Fomos pra inalação, eu o Pedro e o Jef. Depois seguimos pra sala de observação. O Pedro tomou os soros depois de um escândalo por causa do furinho da agulha e dormiu.
Isso era umas 9h da manhã.
Depois de todos os procedimentos realizados, voltamos pro consultório da médica e ela constatou que ele ainda estava ofegante e que a medicação não tinha surtido efeito imediato. Mandou ele de volta pra observação e já me avisou que se ele não melhorasse, ia pedir a internação.


Voltamos pra observação, o Pedro tomou mais soro, fez mais inalação, ficou no oxigênio e no oxímetro de pulso. Avisei a minha mãe, pra que ela voltasse pra casa, pois iria demorar. Isso já eram umas 14h.
Por volta das 17h, o plantão trocou e apareceu outra médica. Ela veio ver como o Pedro estava e viu que não havia melhora.
Decidiu interná-lo.
Eu já tinha chorado litros, mas nessa hora chorei oceanos. Um milhão de coisas passaram pela minha cabeça, e entre elas, o medo de passar o dia das mães sem meu filho em casa.
Avisei a minha mãe que logo em seguida começou a chorar também, sem falar do Jef, que também já estava chorando.
Fizemos os procedimentos burocráticos e a internação foi liberada. Só que o nosso convênio tem carência, e a carência de internação do Pedro vai até o mês de agosto. Ou seja, o convênio não cobriria a internação. Mas nessa hora, nós nem pensamos em tirá-lo de lá por causa de dinheiro. Pois de um jeito ou de outro, arrumaríamos a quantia necessária para o tratamento dele.


O Jef voltou, minha mãe foi pra casa arrumar as malas e então, o enfermeiro nos chamou.
Subimos eu, o Jef e o Pedro.
Chegamos na ala pediátrica e meu coração começou a se despedaçar mais ainda. Quando entrei no quarto, vi aquele bercinho de ferro rodeado de aparelhos, senti uma tristeza profunda.
E a tristeza piorou quando vi um bebê de 11 meses internado lá, apesar d'ele já aparentar boa saúde.
Chegamos no nosso leito, coloquei o Pedro no berço e sentei na cadeira de descanso ao lado.
Nessa hora, minha memória fica falha, os acontecimentos são nebulosos...


Me lembro da enfermeira vindo me entregar uma banheira... Me lembro do Pedro indo pra inalação e pro oxigênio...
Depois só me lembro de mais um companheiro de quarto chegando...
Nychollas, de apenas 2 meses, com os mesmos sintomas que o Pedro, só que apresentando ofegância maior, sem mamar e febre alta.


Quando eu vi aquele bebê frágil, muito pequeno (perto do que o Pedro era com a idade dele), a tristeza foi maior ainda.
Me coloquei por alguns instantes no lugar da mãe dele, que não era muito muito muito distante do meu lugar, mas ainda assim era distante. E senti meu coração se dilacerar mais uma vez.


A primeira noite no hospital foi horrível. O Pedro estranhou o lugar. Não dormia e só queria peito. Ele mamou a noite toda, intercalando entre um choro e outro. Eu fiquei podre.
Quando amanheceu, ele pegou no sono e eu também. Aí o médico veio nos visitar e eu perdi a visita.
Não recebemos alta.


A melhora do Pedro era notável. Ele já não estava mais tão ofegante, mas ainda assim apresentava tosse e chiado no peito.
Eu fiz de tudo pra que ele não se cansasse, dei o tanto de mamá que ele quis, evitei choros e esforços maiores.
Apareceram mais dois companheiros de quarto. O João Pedro de 1 ano e 9 meses, que passou 10 dias na UTI pediátrica por conta de mais uma pneumonia, totalizando 6. E a Lavínia, de 6 anos que passou por uma cirurgia de urgência, por causa de apendicite. 
A noite mais uma vez chegou, e com ela o medo de dormir naquele lugar estranho. Mais uma vez o Pedro mamou a noite toda. 
Amanheceu e dessa vez eu fiquei esperando o médico, pra saber mais sobre a melhora do Pedro. Por volta das 9 ou 9 e meia ele apareceu. Eu já o conhecia, pois foi ele quem avaliou o Pedro depois do nascimento.


Ele perguntou como o Pedro tinha passado a noite... Disse que ele tinha mamado muito, que tinha ficado no oxigênio o maior tempo possível, que o nariz estava melhorando progressivamente e que ele não havia tido febre durante a noite.
Ele então avaliou e examinou o Pedro e pediu exame de sangue pra manhã seguinte e fisioterapia pro mesmo dia.


No mesmo dia apareceu a Renata, Fisioterapeuta. De início, pensei: "Pronto, Pedro vai desandar a chorar e vai ficar bem cansado e não haverá melhoras". Mas ainda assim, enfrentei o esperado choro.
Por incrível que pareça, ele ficou quietinho no colo dela, durante a sessão de fisioterapia, que durou em torno de 15 ou 20 minutos.
Ao final da sessão, ela pegou o estetoscópio pra ouvir o pulmão do Pedro e constatou que não havia mais secreção "presa".
Fiquei muito feliz, agradeci ela, agradeci a Deus e deduzi que aquele seria nosso último dia no hospital.


O dia foi calmo, sem muitas surpresas. Ele ficou o tempo todo acordado. À noite Pedro recebeu a visita do papai, que veio todos os dias de Tatuí pra ficar com ele apenas 1 horinha.
E junto com o papai, nesse último dia, apareceu a vovó, com dois presentes lindos pra ele. Um cobertor e um conjunto - agasalho de plush.
Logo que eles foram embora, por volta das 21h, eu fiquei sozinha com o Pedro. Brinquei com ele, conversei, troquei mil fraldas e dei muito mamá. Por volta da 1h da manhã, decidi colocá-lo pra "dormir" na poltrona de descanso, já que o berço-maca parecia dar choques.
Acomodei-o de forma que ele não caísse, juntei os apetrechos que ele estava usando: Tubo de oxigênio e inalador. E fiz com que ele não machucasse a mãozinha que estava com o acesso intravenoso. Entre um mamá e outro, o Pedro pegou firme no sono.


Fiquei feliz. Não porque eu queria dormir, já que eu só conseguia cochilar quando o sol nascia e começava o entra e sai de enfermeiras no quarto.
E sim porque parecia que ele estava adivinhando que voltaria pra casa e que precisaria organizar o sono.
Dormiu por 5 horas seguidas. Acordou justo no horário de colher o hemograma, 6h.
Dei mamá e levei-o pro posto de enfermagem, a biomédica apareceu e colheu o sangue pro exame. Pedro choramingou bem pouco e logo parou. Então eu aproveitei e perguntei pra enfermeira que horas teríamos que descer para fazer o Raio-X. Ela vasculhou uns papéis e respondeu dizendo que não havia solicitação de Raio-X. Nessa hora fiquei um pouco triste, pois deduzi que sem um exame de Raio-X não haveria alta médica...
Voltei pro quarto com o Pedro, que mamou e voltou a dormir. Aí eu pude cochilar... Na companhia de outra criança internada. Samira, de 2 anos e pouco que iria fazer uma cirurgia pra retirar um cisto da bochecha.


Por volta das 8:00, fui acordada pela mãe da Samira. Ela me disse que o médico já iria passar.
Peguei meu café da manhã comi o pão e deixei o resto lá. Liguei pra minha mãe, pra que ela chegasse antes do médico.
Minha mãe chegou 8:30 e aí foi barrada na portaria, pois o horário de visita começaria às 9h.
A enfermeira chefe então foi avisada e liberou a entrada dela. 
Quando ela chegou no quarto a enfermeira estava preparando as coisas para os banhos dos bebês e as trocas de roupas de cama.


Pedro tomou banho, colocou uma roupa qualquer e ficou esperando o médico.
O médico chegou, atendeu antes o Nychollas e o João Pedro e por último o Pedro.
Perguntou como ele tinha passado a noite, mediu a frequência respiratória do Pedro (que eu já estava medindo desde domingo), examinou o pulmão e disse que ainda havia alguns sinais de secreção. Perguntou se ele tinha eliminado algum catarro, e eu respondi que ele tinha feito muito cocô e que eu tinha notado sim, a presença de muito catarro. Tanto no cocô, quanto nas tosses e nas duas vezes em que vomitou.
O médico então revelou que nos daria alta. Fiquei tão feliz, que mais uma vez a minha memória fica nebulosa...
Juntei as coisas do Pedro, tratei da parte burocrática e descobri então, que o convênio abrira uma exceção e que cobriria os gastos da internação, que já estava por volta de 3 mil dilmas.
Foram duas ÓTIMAS notícias num mesmo dia.
Todo o medo, insegurança e tristeza que eu senti, sumiram... E eu pude sorrir novamente com meu filho nos braços.


Agradeci todo mundo, o médico, peguei a receita dos medicamentos para a continuação do tratamento em casa e sumi do hospital. 
Por mais que a minha felicidade tenha sido imensurável, uma parte de mim ainda ficou muito triste pelos bebês e crianças daquela ala pediátrica.
Quando a gente se torna mãe, a vida fica muito mais feliz e muito mais complicada de se viver. São dois lados da mesma moeda. A gente adquiri uma empatia antes nunca sequer cogitada. A gente passa a entender todas as piras de nossas mães. A gente a passa a temer. Temer coisas normais, temer coisas anormais, temer coisas que sequer existem...
É um grande e assustador emaranhado de sentimentos que não há como serem descritos assim, de forma nua.
Ser mãe ultrapassa qualquer limite de entendimento. Ser mãe é surrealismo puro.
É como se eu olhasse com meus olhos, e enxergasse com os meus olhos e com os olhos do Pedro.


Senti um amargo na garganta por "deixar" aquelas crianças lá. Senti vontade até de ir visitá-las. Criei um sentimento por elas... Entendi o sofrimento delas. Chorei por elas.
Sei que a fé move montanhas. Que Deus tudo pode! Tudo mesmo... Por isso optei por pedir ajuda da forma mais sincera e da forma que nenhum dinheiro paga.
Sei que muitas pessoas de bem torceram pelo Pedro, por nós. Sei que eu não conheço muitas dessas pessoas, mas ainda assim, sei que Deus conhece cada uma delas! E ouviu as orações de todas elas!
Então eu venho aqui pedir pra que você que torceu, que orou, que rezou, que mandou vibrações e energias positivas, faça o mesmo, independente de placa de igreja, de religião, ou da não religião, faça o mesmo por todas aquelas crianças. Muitas que eu conheci e outras tantas que sequer cheguei a saber o nome ou ver. E outras que praticamente moram em tantos outros hospitais.
Não importa a idade, não interessa se é uma gripe agravada, uma pneumonia, uma cirurgia ou um câncer. O que interessa é que Deus move mares e céus pelos seus!
E pra Ele, nada é impossível.
Por isso, vou fazer uma listinha de nomes de crianças e bebês que eu conheci, e que estão com o estado mais crítico, mas façam orações em nome de todas àquelas que ainda estão sobre leitos de hospitais.


João Pedro, 1 ano e 9 meses. Sexta pneumonia. Ficou 10 dias na UTI, apresentou melhoras e foi pro quarto.
Nychollas, 2 meses. Bronquiolite.
Ana Júlia, 1 mês. Bronquiolite.
Ricardo, 16 anos. Desnutrição ( + Síndrome de Down).
Samira, 2 anos e 6 meses. Cirurgia na face para remoção de um cisto.
Lavínia, 6 anos. Apendicite.


Enfim, obrigada à todo mundo que torceu pela recuperação do Pedro. Obrigada também e principalmente à Deus, que nos abençoou e nos tirou do hospital mais rápido do que eu imaginava.


"Mil cairão ao teu lado, dez mil a tua direita. Mas tu não serás atingido".