terça-feira, 10 de janeiro de 2012

O dia em que o Pedro chegou!

Até agora, eu não sabia se queria ou não falar disso aqui.
Porque foi dolorido pra mim, ver que as coisas não saíram do jeitinho que eu planejei com tanta confiança em mim mesma e no Pedro.
Mas agora, esse post ficará marcado como a libertação da minha frustração, das minhas dores, e até do meu fracasso, se isso for cabível à mim.

Comecei a ter contrações à 00:00 do dia 23 pro dia 24/12. (38 semanas e 1 dia).
Sem susto, sem neurose e só um pouco ansiosa, decidi visitar o hospital, só pra desencargo de consciência. E antes de rumar pra lá, resolvi tomar um banho demorado.
As contrações estavam fracas e sem ritmo, mas não pararam durante meia hora. Segui pro hospital. Cheguei lá, fui atendida e examinada, a médica de plantão então constatou 1 dedo de dilatação e me mandou voltar pra casa. E se caso as dores aumentassem, era pra eu retornar. Decidi ir caminhar no Extra.
Cheguei em casa, as dores sumiram. Fiquei decepcionada e fui dormir.
Acordei e tudo estava tranquilo, inclusive as contrações. Senti poucas, com intensidade baixa e desreguladas.
Assim também ocorreu durante todo o dia 25.
Dia 26, eu acordei bem cedo e percebi que as contrações estavam bem mais fortes e rápidas. E todas as vezes em que elas apareciam, o papai do Pedro (lê-se: meu marido) vinha me fazer massagem e foi assim, durante toda a manhã.
Neste dia, eu tinha consulta marcada com o Dr. Marco, médico do meu Pré-Natal. Era o início das consultas semanais.
A tarde, consegui levantar bem calma e passar alguns relaxantes minutos debaixo do chuveiro, antes de seguir pro consultório. Chegando lá, notei que ele estava lotado - e notei também que as minhas contrações aumentavam. Pra não ficar esperando (tinham 3 pacientes na minha frente) e com medo do tamanho da dilatação, resolvi seguir direto pro hospital Samaritano.
Cheguei lá e já de cara, odiei o tratamento que recebi. Demoraram horrores pra me atender, e quando o médico de plantão (que eu nem fiz questão de saber o nome)  me atendeu, eu me arrependi de ter ido pra lá. O motivo? O exame de toque que normalmente já não é agradável, conseguiu ser 100 vezes pior e 1000 vezes mais dolorido. 2 dedos de dilatação.
Além do que, o médico perguntou se o Pedro estava sentado. Juro que a minha vontade na hora era de responder: Se você, que estudou sei lá quantos anos pra saber, não sabe. COMO EU VOU SABER?
Mas aí eu respirei e decidi ficar quietinha escutando a discussão entre o médico e a enfermeira sobre o que eles iam fazer comigo e sobre os problemas que eles tinham lá. Aí eles decidiram ligar pro meu médico (que também trabalha nesse hospital), e ele disse pra me darem um soro com Buscopan, uma injeção (que eu sei que serve pra amadurecer o pulmão do bebê) e o exame pra escutar o coraçãozinho do Pedro.
Fiquei internada num quarto sozinha. Do quarto, eu conseguia ouvir os gritos/choro das parturientes e os xingos que as mesmas levavam das enfermeiras. Nesse momento, eu só queria sair dali.
Às 18:30, meu médico apareceu e me deu alta, pedindo pra que no outro dia, eu fosse ao consultório.
Ainda estava com contrações. E passei a noite assim... Entre contrações e massagens recebidas do Jeferson.

No dia 27, às 7 da manhã, eu acordei. As contrações estavam fortes, eu tomei 84728274637 banhos e consegui chegar no consultório. Lá, fizemos o toque e meu médico constatou que não havia evolução na dilatação. E ainda assim, eu queria um parto normal.
Ele, pra ter certeza, perguntou, e eu respondi que sim, queria um parto normal. Então, ele fez uma estimulação que cá entre nós, doeu horrores. E me mandou voltar no consultório dia 2/1.
Depois da estimulação a dor aumentou, mas ainda assim cheguei em casa e fui fazer uma caminhada. Consegui andar por uns 20 minutos e voltei pra casa pra descansar.
Acordei quase meia noite, fui tomar um banho e percebi que tinha perdido o tampão. Fiquei muito, muito, muito feliz e empolgada.

No dia 28, acordei às 5 da manhã com muita dor. Peguei um papel, liguei a tv e comecei a anotar. Uma a cada dez minutos. Depois, uma a cada sete minutos, uma a cada 5 minutos... E eu cochilava entre uma contração e outra. Estipulei que esperaria até o meio dia se elas não ficassem tão próximas, antes de chamar alguém e pedir pra ir pro hospital.
Meio dia, tava uma a cada 4 minutos. Pedi pra ir pro hospital Modelo. Minha mãe me levou, junto com o Jeferson.

Cheguei lá, fiz todos aqueles procedimentos chatos na recepção (com muita dor) e subi.
Demoraram um pouquinho pra me atender, porque a maternidade estava lotada. E assim que fui atendida, a enfermeira constatou 4 dedos de dilatação e liberou a minha internação. Já eram 15h.
Fui pro pré-parto muito calma. Fiz exame de sangue e o cardio no Pedro, na companhia da minha vó.
Tomei banho, fui pra bola... Recebi massagem e tudo mais. Vieram me examinar e eu tava com 5 dedos de dilatação.
As 3 horas seguintes foram de muita dor, mas ainda assim, elas eram bem suportáveis.
Às 18h, a enfermeira apareceu e decidiu romper a minha bolsa. Não senti dor nenhuma.
No exame de toque, ela percebeu que durante essas 3 horas, minha dilatação não tinha evoluído.
Meia hora depois, meu médico chegou.
Disse que não sabia se ia poder fazer o meu parto, já que o combinado era que eu fosse pro hospital Samaritano.
Ainda assim, eu continuei calma. Não importava o médico, a única coisa que importava era a saúde do Pedro.
Aí meu médico me examinou e constatou que o Pedro tava com a cabeça bossa.
Pra quem não sabe, cabeça bossa é quando o recém nascido tem a cabeça com forma de cone, por conta do acúmulo de líquidos no topo da cabeça.
Eu não sabia o que significava cabeça bossa e fiquei muito preocupada.
O Dr. disse pra eu fazer força e disse também que voltaria pro Samaritano e que dentro de 2 horas estaria de volta, visto que se o Pedro não tivesse nascido, nós partiríamos pra uma cesárea.

Nessas duas horas, eu forcei, pedi pra Deus, chorei, me senti fraca e mais um milhão de sentimentos e tentativas tanto psicológicas quanto físicas que não deram certo.
Pontualmente, o Dr. Marco apareceu com a enfermeira já colocando uma touca nos meus cabelos.
Eu perguntei pra ela: Vamos pra cesárea? E ela respondeu: Sim!
Desabei de chorar. Entrei no centro cirúrgico chorando.
Dr. Frederico, o anestesista, me acalmou. Perguntou meu nome, perguntou sobre as minhas tattoos, me explicou sobre a cirurgia (o que eu já sabia) e a anestesia, perguntou o nome do Pedro.
às 20:48, eu ouvi o choro do Pedro pela primeira vez.

A partir daí, minha memória fica um pouco falha.
Lembro que vi a cabeça dele e tomei um susto. Lembro que levaram ele pra uma saleta ao lado, onde eu podia enxergar. Vi ele sendo medido, sendo limpo e pesado. Olhei pra balança, ele pesava 3,385kg.
Vi a minha avó assistindo meu parto. E vi a enfermeira me trazendo ele ainda todo sujinho, embrulhado num paninho, com uma touca feita de faixa. Ela me disse alguma coisa que eu não conseguia lembrar.
E esse momento, palavra nenhuma conseguiria descrever o sentimento. Lembro que eu dei um beijo no rosto dele, e ele abriu os olhos pretinhos pra me olhar. Aí eu lembro bem que eu chorei com mais vontade e mais força do que eu já havia chorado.
Lembro que levaram ele pro berço aquecido, e lembro da pediatra vindo falar pra mim que ele estava bem, que ele era saudável, apesar da cabeça bossa.
Nesse instante, eu vi o Jeferson entrando. Ele passou pelo Pedro e nem percebeu. Então eu levantei o braço e apontei pro lado dele. Ele olhou e mesmo de longe, eu pude sentir a felicidade. A felicidade dele, a felicidade do Pedro e a minha felicidade por ter conseguido constituir uma família.

Naquele momento, eu esqueci da dor, esqueci dos medos, do meu plano de parto, do que eu havia sonhado pra mim, do que eu tinha passado durante a gestação, do que eu tinha passado durante esses 4 dias.

Depois disso, eu lembro que logo que a cirurgia terminou, eu ainda estava anestesiada e colocaram o Pedro em cima de mim pra mamar. Ele ficou mamando por uns 30 minutos, na porta do Centro Cirúrgico, antes de me levarem pro quarto.

Já no quarto, Pedro ficou comigo sem roupa (ele) durante 6 horas. Só no contato pele a pele. Apesar dos traumas sofridos, eu dormi sossegada com ele nos braços, literalmente.



Meu parto não foi como eu havia planejado. Eu queria um parto normal de todas as maneiras, e tenho certeza de que fui até o fim pra conseguí-lo, e ainda assim, não consegui. Não sei se foi culpa minha, do médico ou se a natureza quis assim.
O que importa mesmo é que apesar dos pesares, eu aprendi que mesmo planejando cada segundo de cada fase de nossas vidas, nunca, nunca e nunca teremos a plena certeza de que tudo sairá como planejado. E que o melhor mesmo, é deixar as coisas acontecerem, de forma que não haja frustrações, decepções e "culpa" no final das contas. Pedro nasceu saudável, e eu agradeço a Deus por isso. Nas horas que passei no  hospital, vi mães que perderam os bebês, mães que tiveram complicações que resultaram em bebês na UTI e mães saudáveis com bebês saudáveis, como eu.
Diante disso, pude ver o quão medíocre é de nossa parte, e quão ilusório é querer reger a natureza. Não há médico, não há parteira, não há doula e não há enfermeira que possa intervir e mudar o que Deus escreveu.


Ele nasceu com 49 cm e 3,385kg, às 20:48 do dia 28 de dezembro, no hospital Modelo, em Sorocaba.
Pedro com poucos minutos de vida e carinha de joelho, no berço aquecido.


4 Opiniões:

Yara Guariglia disse...

Ahhh como eu choro!!! Lindo, lindo, lindo, Pri. Parabéns pela força, pela experiência e pela família. Fico mto feliz por vc.

Ishtar - Espaço para Gestantes disse...

Parabéns pela persistência, vencimento dos medos e pelo nascimento do seu pequeno.
A maternidade realmente nos mostra isso: que não temos controle em nada! Nossos filhos nos mostram isso, que precisamos ser flexíveis, reflexivos, pacientes.
Uma pena vc ter sido tão mau atendida nos hospitais e ter que passar por uma cesárea assim.
Muito leite e felicidades. E esperamos vc no Ishtar para ouvir seu relato pessoalmente!

Roanna M. disse...

Nossa, Pri! Me vi no seu relato. A diferença é que dilatei tudo e, sem informação, fui pra cesarea por questão do mecônio! Lá descobri que a Balu estava com duas circulares no pescoço e fiquei um bom tempo lamentando o meu parto, a minha falta de mobilidade por questão do corte da cirurgia e quase peguei uma depressão pós parto!

Nem tudo sai como a gente quer, mas quando a gente vê aqueles pequeninos tudo passa e a gente tem a certeza que passaria por tudo aquilo de novo! :)

Não canso de dizer, o Pedro é lindo!

May Sabino disse...

Muita estranho dizer, mas chorei demais lendo teu relato! É uma dádiva de Deus podermos ser mães. Não sou, mas não vejo a hora de ser, na hora certa. É emocionante demais esse teu blog e partilha do seu conhecimento. Adorei, adorei!

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