quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Querer, conseguir ou poder?

Primeiro: Se você não compactua da ideia da amamentação e da amamentação prolongada, e tem a plena convicção disso, esse texto infelizmente não é pra você e eu sugiro que você corra para outro site o mais rápido possível. Mas se você compartilha dessas opiniões e ainda assim, está aberto à novas experiências, novos argumentos e novas discussões saudáveis, seja bem vindo.

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Navegando pela internet, me deparei há algum tempo, com a fan page de uma certa revista cujo assunto principal é a infância e o relacionamento familiar.
A página, insinuava que uma mãe que não quer amamentar por quaisquer motivos, incluindo vaidade, não merecia se sentir culpada.
Assim como a mãe que prefere dar comida industrializada e a mãe que radicalmente negligencia seu filho, ao deixá-lo chorando sozinho no berço.
Não contente em somente repassar tais informações, cujo o objetivo real ainda é desconhecido (aos olhos dos leigos na caminhada pró-amamentação, pois aos olhos dos mais espertos, informados e convictos, o real objetivo é tão transparente quanto barriga de lagartixa. Marketing para grandes empresas fabricantes de fórmula infantil - leite artificial e papinhas), a página tem feito grande campanha expondo estórias mal sucedidas acerca da amamentação. Tudo para desencorajar aquelas que ainda estão na difícil fase de adaptação. E para apoiar mães que decidem não amamentar. Opondo-se à recomendação da OMS (Organização Mundial de Saúde), opondo-se também, à priorização das necessidades dos bebês, visto que amamentar não é unicamente alimentar. Entre tantos benefícios da amamentação, vale citar alguns:
Aumento de vínculo entre mãe-bebê.
Auxílio na formação da arcada dentária do bebê.
Prevenção de anemia.
Menos cólicas.
Flora intestinal reforçada.
Após o 6º mês, a amamentação ajuda a combater o estresse e o contato com a mãe, tem um efeito positivo no desenvolvimento psicológico do bebê.

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Após o desserviço prestado por tal revista, decidi então, bater na mesma tecla mais uma vez. Pois priorizo e levanto a bandeira da amamentação (e da amamentação prolongada) e pra mim, é de suma importância que as pessoas que nos visitam aqui, através do blog, saibam que amamentar TEM de estar entre as prioridades da maternidade.
Como o mais importante pilar a sustentar toda uma construção.
Porém, a cultura da sociedade ocidental têm acreditado cada vez menos no poder da amamentação e no poder da mulher como nutriz.
Dispondo então, da ausência de culpa quando a possibilidade de não amamentar passa a fazer parte da vida familiar.
Primeiro talvez, pelo conservadorismo e machismo que resultam na erotização dos seios, fazendo com que eles sejam meros "objetos" de desejos sexuais e não mais fontes de alimento.
Segundo porque amamentar não é uma tarefa fácil. Requer paciência, dedicação, VONTADE, força e às vezes até, sentidos sobre-humanos.
Apesar de ser um ato natural, ainda é necessário procurar ajuda, informação e capacitação para levar a amamentação adiante. Muitas vezes por um descuido qualquer, tudo parece desmoronar. Os seios racham, a dor aponta, o empedramento surge e aí, a vontade de desistir torna-se notória.
Apoio para continuar é indispensável, mas esse assunto infelizmente ainda é tratado como nadar contra a corrente.
Muitos orientam a mãe a cessar a amamentação e ignorar essa ideia de se tornar mártir.
E esse, se torna o caminho mais fácil e o caminho tomado sem muitos (ou com nenhum) questionamentos.
O Pediatra sugere a mamadeira e a fórmula e atribui a culpa (quase sempre) ao leite fraco (o que não existe) e à baixa produção (que geralmente é causada pela amamentação estipulada). Tudo, por seguirem curvas ultrapassadas de crescimento e ganho de peso.
Ou então por aceitarem o patrocínio ($$$) das grandes empresas de fórmula infantil/papinhas em troca da prescrição das mesmas aos pequenos pacientes.
Fora esses fatores que contam - e muito para um desmame precoce e abrupto, há também, a questão do cansaço materno.
Amamentar dá sede, fome, calor. Amamentar cansa, machuca, sangra. Amamentar depende de uma entrega imensurável. De automaticamente se esquecer e passar a ser somente do seu filho.
Mas para se ter estórias de sucesso, o apoio é indispensável. Mesmo que ele seja mínimo. Eu por exemplo, amamento o Pedro há 8 meses e 22 dias e na fase de adaptação, amamentar foi muito difícil mas para obter uma trajetória de sucesso contei com o apoio da minha mãe, do Jef (papai do Pedro), do Pediatra e de uma fralda de pano que eu mordia sempre que sentia dor. Li relatos de amamentação que me mostraram que sim, eu podia.
Mas de antemão, o que facilitou muito, foi o fator QUERER.
Hoje, a minha luta não é mais somente para alimentar o meu filho, onde e quando ele quiser. É para mostrar às pessoas que amamentar é possível, mas que pra isso, é necessário confiar no seu próprio corpo e desconfiar dos conselhos de terceiros (inclusive de médicos).
Eu sou ativista da amamentação. Leio artigos, ajudo quem me procura, participo de grupos e fóruns de discussões, me informo sempre que posso e levanto a bandeira onde quer que esteja.
E se for necessário, brigo, grito, arranho e mordo.
Mencionando isto, utilizo deste mesmo post, para dizer que o meu desafeto não é (e nem nunca será) para com as mães que não PUDERAM amamentar.
Quando eu pronúncio e dou ênfase à palavra "puderam", esclareço que poder é diferente de querer e de conseguir.
Há mães que infelizmente não podem amamentar seus filhos por muitos motivos, inclusive de saúde.
E nesse tipo de dificuldade, faz-se transparecer o meu respeito. Mas, às mulheres que não quiseram, infelizmente ainda não passam pela minha garganta. Afinal, amamentar é dar continuidade ao que o bebê sentia no ambiente intrauterino.
Outro ponto que muito me tira a paciência é a famigerada desculpa do "não consegui". A amamentação não deve ter tratada como um privilégio de poucas. E sim, como um ponto que pode e deve ser alcançado com dedicação, assim como tantos outros pontos na vida.
Todas as mães que tentam empregando dedicação, determinação e força de vontade, conseguem. As que quiseram, mas não se impuseram diante das dificuldades, da não-aceitação da sociedade e de todos os outros zilhares de fatores opostos à amamentação, infelizmente não conseguem...
E muitas delas, acabam por carregar a culpa. Justo? Não sei.
Mas pensando pelo lado lógico, a culpa só existe quando o indivíduo sabe que poderia ter doado-se mais à causa e não se doou, acatando então, o efeito que gera a citada culpa.
Portanto, assemelhar o CONSEGUIR com o PODER é um equívoco. E o mais correto e coerente, seria assemelhar o CONSEGUIR com o QUERER.
Se você ainda está na fase de adaptação, não deixe que as opiniões contrárias (e as estórias fracassadas) te abatam.
Não é simplesmente porque fulana (famosa ou não, escritora ou não, mãe de gêmeos ou não, formadora de opinião ou não...) diz que "não conseguiu", que você necessariamente não "conseguirá". Se você quer, deseja, sabe da importância, da necessidade e dos benefícios insubstituíveis e indispensáveis, lute pelo seu PODER DE NUTRIZ.
Argumente com evidências defronte às desculpas esfarrapadas do leite fraco, do leite que não sustenta, do leite que não está suficientemente sendo produzido a cobrir a demanda.
Mostre que a fórmula hoje em dia não mata (procure saber sobre uma reportagem chamada Fórmula Fix), mas por mais que seja uma oferta tentadora e fácil, não é o melhor caminho, nem a melhor escolha para o bebê, que ainda não sabe responder por si só e depende de um adulto para conduzí-lo.
Esquive-se da opinião contrária, que por mais que não lhe afete fisicamente, pode agredir o seu psicológico.
Estude, leia, procure ajuda de enfermeiras, do Banco de Leite Humano da sua cidade e se for necessário, de uma consultoria em amamentação.
Leia relatos de relactação e translactação. Renove suas forças, se encha de esperança e nunca esqueça das suas raízes e dos seus instintos femininos e maternais.



Nós quisemos, pudemos e conseguimos. ♥

Por fim (para encerrar o post com chave de ouro) deixo aqui, um vídeo que faz com que a desistência deixe de permanecer intacta e se transforme em coragem.
O vídeo é do ISHTAR - Sorocaba, e foi criado em comemoração à Semana Mundial do Aleitamento Materno 2012.

1 Opiniões:

Béu. disse...

Eu sofri durante aproximadamente 1 mês a tal fase de adaptação, mas sempre tive muita vontade de amamentar e por isso não desisti. No meu caso a dificuldade foi criada porque atrapalharam o nosso começo: deram L.A. pro meu filhote na maternidade alegando que eu estava produzindo pouco leite e me recomendaram seguir com a mamadeira qdo chegasse em casa, coisa que eu não fiz, claro. Tenho motivos para desconfiar de que fui vítima de ignorancia e preconceito da parte deles, pelo fato de eu ser vegana. Teoricamente um profissional da saúde deve estar atualizado quanto a esse tipo de coisa (ou é isso que a gente espera), mas infelizmente já vi que muitos deles não estão. Enfim... pelo menos agora, com o meu baby prestes a completar 2 aninhos, ainda amamento e recomendo que outras mães façam o mesmo! Dicas? Tomar muita água, comer bem, estar tranquila e principalmente, como vc disse, QUERER fazê-lo. ;)

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